sábado, 22 de outubro de 2011

Qual a importância de amamentar?



Um cantinho aconchegante, o bebê no colo e a nova mamãe senta para amamentar. Uma cena linda, mas nem sempre dar o peito é um processo tão natural. No início incomoda, é preciso ensinar o bebê a sugar direitinho e insistir até ficar confortável para os dois. Para ajudar os pais – sim, porque o pai também é fundamental - nessa empreitada, Grasielly Mariano, enfermeira do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Aleitamento Materno da Escola de Enfermagem da USP (NEPAL), em São Paulo, lançou o livro Socorro, eu não sei amamentar! (Editora Lexia). Confira a entrevista com a autora, cheia de dicas que vão ajuda-la – e muito!

Afinal, como amamentar?

A técnica para posicionar o bebê é simples e muito importante para que ele consiga retirar o leite da mama sem machucá-la. Sente-se de modo confortável, relaxada, com a coluna ereta e os pés apoiados em uma banqueta. O corpo do bebê deve estar totalmente voltado para o corpo da mãe, de modo que seja possível o encontro barriga com barriga. Atente para o pescoço do pequeno, que deve estar ligeiramente estendido para facilitar a pega. Segure a mama com os dedos em forma de “C” e não em forma de tesoura – este procedimento serve para direcionar a pega. Estimule o bebê a abrir bem a boca, passando o mamilo na região entre o nariz e o lábio superior. Quando for possível ver a boca do bebê bem aberta e com a língua abaixada, movimente-o em direção à mama para que ele possa abocanhar grande parte da aréola.

O que é o colostro e qual a importância dele?

O colostro é a primeira secreção que sai do seio da mulher e que é formado durante a gravidez. É um fluido acumulado nas células alveolares nos últimos meses de gestação e secretado nos primeiros dias pós-parto. Contém mais proteína, vitamina A e minerais, ao passo que apresenta menor quantidade de carboidrato do que o leite maduro. O colostro é um leite de muita importância e é capaz de alimentar um neonato até o momento em que se transformará em secreção láctea branca, fenômeno conhecido como apojadura láctea e que pode acontecer até o décimo dia pós-parto.

O que fazer quando amamentar dói?

As temidas rachaduras e fissuras são lesões que podem ter diversas causas, mas em sua grande maioria são ocasionadas pelo posicionamento e pega inadequados. Comece avaliando se está fazendo certo. O leite materno tem substâncias cicatrizantes e, por isso, deve ser passado no mamilo após as mamadas. Mantenha o mamilo seco a maior parte do tempo e não use cremes hidratantes, sabonete ou álcool na área afetada. Variar as posições também pode ajudar na cicatrização e alivia a dor.

Descobri que estou grávida. Posso continuar amamentando?

De modo geral, uma nova gravidez não é indicação para interromper o aleitamento materno, a não ser que a gestante tenha ameaças de entrar em trabalho de parto prematuro – a amamentação estimula um hormônio chamado ocitocina, que pode causar contrações no útero. Se sentir cólicas ou desconforto enquanto amamenta, converse com o seu médico.

Qual a importância do pai nesse momento? No que ele pode ajudar?

A figura paterna é de extrema relevância e tem sofrido modificações ao longo dos anos, uma vez que a gravidez e o nascimento do bebê deixaram de ser uma preocupação apenas da mulher e hoje são parte da experiência do casal. Os cuidados com o neonato agora são compartilhados. O vínculo entre a mãe e o bebê é fortemente reafirmado durante a prática de amamentação e o pai pode participar deste momento, oferecendo carinho e apoiando tanto a mãe quanto o bebê. Sua presença e seu toque são capazes de acalmar o pequeno e sua opinião favorável ao aleitamento materno é um fator muito positivo para o prolongamento da amamentação. O pai pode, ainda, se responsabilizar por algumas tarefas domésticas para que a mamãe consiga amamentar seu recém-nascido com tranquilidade e em regime de livre demanda. A mulher deve permitir, sempre que possível, que o pai ajude, colocando o bebê para arrotar, por exemplo, que é uma excelente oportunidade para fortalecimento dos laços entre pai e bebê.

Qual dica você daria para a mãe que está enfrentando dificuldades, mas não quer parar de amamentar?

Não espere muito tempo para procurar ajuda. Saiba que a amamentação deve ser uma prática prazerosa para mãe e bebê, sem dor, sem grandes problemas e, por isso, se a mamãe enfrenta alguma dificuldade, não deve demorar para consultar um profissional experiente. Não pare de amamentar sem tentar todas as possibilidades de solução para o seu caso. O seu bebê merece e tem o direito de ser amamentado. 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Entenda o choro do seu bebê



Imagine passar nove meses em um lugar muito aconchegante onde nunca falta carinho e muito menos alimento e, de um dia para o outro, perder todas essas regalias. Não parece nada fácil e, embora todos tenhamos passado por isso, é impossível lembrar o que sentimos em nossos primeiros dias de vida. “O recém-nascido não tem condições de manifestar intencionalmente suas necessidades. Seu organismo permite comunicar que algo não está bem apenas por meio do choro”, afirma Tereza Hatae Mito, professora do curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Assim, para a maioria dos pais, é difícil entender quais os anseios do bebê em cada situação. Conversamos com especialistas para ajudar na árdua da tarefa de decifrar as principais necessidades expressas pelo pranto.

Como agir

A primeira atitude frente a um bebê que chora é marcar presença por meio da voz e do toque, de acordo com a psicóloga do Mackenzie. “Muitas vezes, quando ele já reconhece a voz da mãe, basta sentir que ela está por perto para que se acalme, pois se sente desprotegido e angustiado quando dá conta de sua falta”, diz. Isso acontece porque, no início da vida, não se tem a noção clara do que é parte de si e do outro – o bebê ainda não se diferencia da mãe. Dessa forma, ele precisa de muita atenção e do atendimento imediato de suas necessidades. “Mas conforme se desenvolve, ele vai aprendendo a tolerar esperas e frustrações”, afirma Tereza. Já com o pequeno no colo, a mãe deve verificar se suas necessidades básicas foram supridas: se dormiu o suficiente e se está bem alimentado, limpo e vestido de acordo com a temperatura ambiente. “Em geral, quando se trata de uma demanda rotineira, o choro cessa depois de o bebê ser acudido, mas, como há vezes em que o incômodo persiste, é importante também levantar hipóteses como dores ou algo que possa tê-lo assustado”, orienta Tereza. A pediatra Wilma Hossaka, da Beneficência Portuguesa de São Paulo, indica, ainda, que os pais observem se o filho está respirando normalmente e se a tonalidade da pele continua a mesma. À medida que os primeiros (longos) dias passam, essas verificações começam a ocorrer de forma mais automática, pois a mãe vai desenvolvendo a capacidade de decodificar os desejos do bebê. Aos poucos, ela percebe que a intensidade e duração do choro, a movimentação e a expressão do bebê mudam de acordo com aquilo que ele está “pedindo” e, assim, cria-se um canal de comunicação. “Mas esse tempo varia conforme a sensibilidade da mãe”, ressalta Tereza.

Transparência

Cada bebê tem uma maneira de demonstrar seus desejos, mas algumas manifestações são comuns à maioria deles, como as “caretas” de dor, por exemplo. “A expressão facial é muito reveladora e dificilmente um recém- nascido consegue “camuflar” seus sentimentos”, afirma a professora.



Cólica

A careta costuma estar associada às cólicas, que, em geral, vêm acompanhadas de um choro agudo e persistente e um apelo desesperado, segundo Tereza, que ressalta que este comportamento pode estar ligado a outros tipos de dor, como as de ouvido, bastante frequentes nos primeiros anos de vida. “Os lactentes com cólica se contorcem bastante, esticando e encolhendo as pernas”, acrescenta a médica da Beneficência, que chama atenção para o fato de que a dor tende a ocorrer no final da tarde ou início da noite. Na maioria das vezes, as cólicas cedem espontaneamente, “mas procedimentos como levar o bebê ao colo, aplicar compressas quentes no abdome e fazer massagens no local podem trazer alívio mais rapidamente”, sugere Paulo Taufi Maluf Jr., pediatra do hospital paulistano Nove de Julho. A utilização de medicamentos, em casos extremos, deve ser orientada por um profissional.



Fome

“A necessidade de se alimentar é a causa mais comum do choro”, informa o pediatra. As mamadas devem ocorrer a cada três ou quatro horas e, com a proximidade do horário, é normal que os recém-nascidos chorem e demonstrem impaciência. Chupar os dedos e abrir a boca com as mãozinhas sobre os seios da mãe também são indícios de que ele precisa se alimentar. Se as lágrimas são persistentes e não cessam após o bebê se alimentar, Wilma Hossaka recomenda que os pais verifiquem junto ao pediatra se as mamadas estão sendo eficientes e se o volume de leite está adequado.



Sono

Os recém-chegados precisam dormir cerca de 18 horas por dia. “No início, é comum que “briguem” com o sono, pois este é um período de adaptação. Eles ficam bastante chorosos durante esse processo e cabe aos pais garantir um local tranquilo e com meia luz, o que os ajuda a iniciar o sono”, indica Wilma. Mudanças de ambiente e ruídos excessivos são fatores que também podem atrapalhar o sono dos pequenos, de modo que a rotina, especialmente nos primeiros meses, é extremamente importante. Ficar agitado, manhoso, e derramar lágrimas carregadas de nervosismo e irritação são outros sinais de que algo o está impedindo de dormir com os anjos.



Temperatura

O pranto pode indicar desconforto térmico, principalmente porque o recém- nascido ainda não é capaz de manter a temperatura corporal. Assim, vale a orientação de que os bebês devem usar apenas um abrigo a mais em relação ao que a mãe estiver vestindo. Nessa situação, o choro é bem semelhante ao provocado pelo sono, que transmite desconforto.





É manha?

Na opinião de Tereza Mito, é difícil falar em manha ou birra sem pensar em “intenções” que estejam por trás das lágrimas. “Um bebê que fica muito tempo sem colo e só o recebe quando chora rapidamente adota a “estratégia” para suprir suas carências”, exemplifica. Daí a necessidade de observação constante da criança e atenção às atitudes que, com o tempo, ela passa a ter. Só quem é muito próximo do bebê tem condições de avaliar quando e quanto pode deixá-lo chorar, porém “é preciso levar em conta que um pouco de choro pode fortalecê-lo e o excesso provoca muita angústia”, afirma a profissional. “Em casos de dúvida, o melhor a fazer é procurar um psicólogo para tentar entender as causas do pranto e como a mãe pode estar acentuando o problema.” Há também situações em que a criança se sente insegura. Nesses casos, não raro as lágrimas vem acompanhadas de soluço.

Atenção!

“Sempre que o choro é prolongado, não há fome e já foram realizados os ajustes para alívio das causas mais frequentes, deve-medir a temperatura da criança e verificar a presença de alterações na pele, nos membros e na cabeça, além de checar sinais de traumatismo”, recomenda Paulo Taufi Maluf Jr. É importante averiguar, também, se o choro acompanha sinais de infecção, tais como febre, vômitos, tosse e diarreia.